Com a proximidade da temporada de verão, e com 87,80% de ocupação dos leitos, sistema de saúde de Florianópolis está a beira do colapso.
*Reportagem por Luiz Carlos Filho
Durante a sessão na Câmara de Vereadores de Florianópolis, no dia 25 de novembro, quarta-feira, o vereador Marcos José de Abreu fez um alerta sobre a situação da pandemia no município. Atento aos dados, Marquito evidenciou a falta de planejamento para mitigar o problema maior. Com a alta demanda nos equipamentos públicos de saúde que a doença vem gerando, a situação está próxima da calamidade. Há relatos, principalmente no norte da ilha, de precarização no atendimento, com ciclos que ultrapassem 10 horas, fazendo com que os profissionais de saúde fiquem sobrecarregados e exaustos - a ponta mais frágil, já que são a linha de frente e sofrem com a falta de estrutura.
Há razão nessa preocupação. Os dados apresentados a partir de outubro, portanto, após uma série de decretos que flexibilizaram medidas sanitárias, são ainda piores que durante o pico da pandemia no mês de julho. No último boletim epidemiológico(1) do Necat-UFSC (Núcleo de Economia de Estudos Catarinenses), do dia 21 de novembro, a taxa de transmissão no município estava em 1,14. Ou seja, cada 100 pessoas transmitem para outras 114. Alguns países utilizam como parâmetro a taxa Rt de 0,70, para serem tomadas medidas de flexibilização.
No mesmo estudo ficou demonstrado como a precipitação da flexibilização, muito pela pressão da elite econômica e pensada não como política pública e sim como capital eleitoral, se tornou um desastre. A partir de outubro, a taxa de crescimento de casos foi de 7% na primeira semana, 8,5% na segunda, 12% na terceira e 14% na quarta, levando a maior incidência de casos ativos com 21.536 pessoas infectadas. Para se ter uma ideia, no mês de julho, auge da pandemia em Florianópolis, a maior incidência de casos ativos foi de 12.300 infectados.
Outro questionamento levantado por Marquito naquela sessão, foi a falta de testes e uma política eficiente de monitoramento por parte da Secretaria de Saúde de Florianópolis. Há pouca e ineficiente testagem. Segundo dados da própria secretaria(2), houve 54.659 testes, com um tempo médio de 10 dias entre o primeiro atendimento e o resultado, sem que haja, nesse período, um planejamento adequado de controle de contaminação. Afinal, se já se sabe que a taxa de transmissão está em 1,14 Rt, seria importante mapear pessoas que tiveram contato com indivíduos contaminados. O Plano de Contingência(4) da prefeitura sequer cita esse tipo de monitoramento.
Outro parâmetro que demonstra a falta de uma política de combate a pandemia, foi que, destes pouco mais de 54 mil testes, quase 38 mil foram feitos pelo método de teste rápido. Há estudos (3) que garantem a não confiabilidade nesse tipo de testagem, já que o mesmo dá muito falso negativo, levando ao afrouxamento de medidas de prevenção à doença. Sabendo ou não disso, a prefeitura, numa licitação emergencial (5), adquiriu da Oltramed no mês de abril, um lote de 25 mil testes rápidos ao custo total de R$ 6 milhões.
Nem tão democrática assim
A desigualdade social escancara outro problema relacionado a pandemia - a vulnerabilidade da população de baixa renda, colocando por terra o mito de que a Covid-19 atinge tanto ricos quanto pobres. E, claro, em Florianópolis não poderia ser diferente. Ao analisar os dados disponíveis no Método de Análises(2), fica evidente que a demanda maior nos equipamentos de saúde, são nos bairros onde há maior vulnerabilidade socioeconômica.
Para se ter uma ideia, por bairros, as maiores demandas são: Rio Vermelho (norte), Saco Grande (centro), Tapera (sul), Monte Cristo (continente). Ao baixar a planilha com dados sobre óbitos, apesar da falta de um recorte socioeconômico, é possível seguir algumas pistas como raça/cor e bairro, levantando também o questionamento: Quem são os mais atingidos pela pandemia e se ela é realmente uma doença aparentemente democrática?
Nesse sentido, medidas de monitoramento e isolamento seriam um modelo ideal de controle da pandemia, já que, o isolamento social é eficaz para famílias que estão num contexto econômico que possibilite o não contágio. Quando se trata de locais vulneráveis economicamente, há diversos dilemas que colocam em xeque tais medidas de contenção - grande parte desta população não se pode dar ao luxo do trabalho remoto (home office), estão, também, suscetíveis ao contágio no transporte público e, para piorar, a maior densidade demográfica nestes bairros, impossibilita o isolamento social.
*Luiz Carlos Filho é jornalista e sociólogo
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